Quinze anos da Fundação do Quarto Mundo

Ilustração do mascote do Quarto Mundo por Will

Em outubro deste ano (2022) o Quarto Mundo, um coletivo de quadrinistas independentes que ajudei a formar, irá completar 15 anos de sua fundação. Para marcar esta data irei recuperar neste texto um pouco da história do coletivo, sobretudo para os quadrinistas mais jovens.

Mas vou começar pelo fim. O Quarto Mundo encerrou suas atividades em dezembro de 2012, e eu também escrevi um texto para marcar esse fechamento, no qual falo da importância que o coletivo teve para o crescimento dos quadrinhos independentes brasileiros.

E agora voltemos pro começo do Quarto Mundo. Na verdade, um pouco antes. Aí nesta foto estão eu e o Leonardo Melo, vendendo nossos quadrinhos do lado de fora da Festcomix de 2006, em São Paulo, nos protegendo numa banca de jornal de uma chuva chata que caia.

Cadu Simões e Leonardo Melo. na saída da Festcomix de 2006.

Naquela época, os poucos eventos de quadrinhos que existiam, não tinham Artist’s Alley. O único jeito de participar era alugando estandes, que eram muito caros para um quadrinista independente pagar. Então o jeito era vender nossos quadrinhos do lado de fora dos eventos.

Um dos motivos da criação do Quarto Mundo foi justamente reunir vários quadrinistas para então coletivamente termos dinheiro para alugar estandes e participar de eventos. E foi assim que o Quarto Mundo teve sua estreia no lendário FIQ (Festival Internacional de Quadrinhos) de 2007, em Belo Horizonte.

Estande do Quarto Mundo no FIQ 2007.

Para um bando de quadrinistas independentes que até então só conseguiam vender seus quadrinhos na rua, sofrendo com sol e chuva, estar pela primeira com estande dentro de um evento grande como o FIQ foi inesquecível.

Estande do Quarto Mundo no FIQ 2007.

Outra função do Quarto Mundo foi criar uma rede de distribuição de HQs independentes. Como tínhamos membros em todos os estados brasileiros, trocávamos nossas publicações entre nós, e assim conseguíamos distribuí-las e vendê-las em várias cidades onde não chegaríamos sozinhos.

Para promover e divulgar as HQs independentes que eram distribuídas e vendidas pelo Quarto Mundo, a gente criou um jornalzinho, o Informativo Quarto Mundo, que era distribuído gratuitamente. É possível ler os PDFs dos jornais neste link.

Durante seus 5 anos de existência, o Quarto Mundo participou de diversos eventos de quadrinhos, em diversos estados e cidades, como os já citados FIQ em Belo Horizonte e a Festcomix em São Paulo, mas também a Rio Comicon no Rio de Janeiro, a Gibicon em Curitiba, e muitos outros.

Mas não só de eventos de quadrinhos vivia o Quarto Mundo. Para furar a bolha, íamos pra qualquer tipo de evento que nos aceitavam. Participamos então de várias feiras livres, festas e shows. E se deixassem, teríamos montado a banca do Quarto Mundo até em casamentos. =)

O Quarto Mundo também mantinha um site no qual publicava webcomics produzidas por seus membros, com atualizações diárias. E atrelado a este site, tinha um fórum de discussões, o Quinto Mundo, no qual quadrinistas que não eram membros ativos podiam contribuir de alguma forma.

Acho que o Quarto Mundo foi o primeiro e único coletivo de quadrinistas com amplitude nacional, então a minha visão sobre a história dele é parcial, pois membros de Recife, de Curitiba, de Maceió, de Manaus, de Brasília, etc, tiveram experiências diferentes de mim aqui em Osasco.

Quando o Quarto Mundo surgiu, não havia financiamento coletivo, não havia impressão por demanda, não havia eventos com Artist’s Alley, entre várias outras coisas que facilitaram a vida do quadrinista independente. E creio que o Quarto Mundo ajudou um pouco pra esse cenário atual.

Ajudar na criação de um coletivo como o Quarto Mundo foi um processo orgânico na minha jornada como quadrinista pois sempre vivenciei a criação de quadrinhos de forma coletiva, afinal, eu sou apenas roteirista, e sem a colaboração com desenhistas, coloristas, etc, não faço HQ.

Enfim, espero que a história do Quarto Mundo não se perca. Digo isso não apenas por ter feito parte, mas por ser historiador e saber da importância da preservação de algo assim. Ainda mais na cena de quadrinhos nacional, que não costuma guardar a memória de sua própria história.

Por Cadu Simões

Alguém em busca da questão fundamental sobre a vida, o universo e tudo mais.

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